A interoperabilidade é um dos pilares da transformação digital. Com o crescimento da complexidade das aplicações e infraestruturas digitais, torna-se essencial que os diversos sistemas e arquiteturas se comuniquem entre si.
Neste artigo, partilho de forma simples e prática o que é interoperabilidade e por que ela é fundamental na Revolução Industrial atual, desde os protocolos da Industrial Internet of Things (IIoT) até às arquiteturas orientadas a eventos (Event Driven Architecture – EDA).
O que é interoperabilidade?
De acordo com o dicionário:
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Qualidade de interoperável; condição do que pode funcionar em conjunto com outro(s).
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Em informática, característica que possibilita a ligação e o funcionamento conjunto de vários computadores.
A discussão sobre interoperabilidade surgiu nas empresas nos anos 1990, quando sistemas isolados criavam “ilhas” que não se comunicavam. Com o advento da Internet, tornou-se necessário que esses sistemas cooperassem e trocassem recursos para resolver tarefas em conjunto.
Exemplo prático: sistemas de RH
Imagine duas empresas, ABC e 123, cada uma com seu sistema de Recursos Humanos.
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Na ABC, o identificador do funcionário é “CV” e armazenado como texto.
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Na 123, é “NúmeroFuncionário” e armazenado como número.
Por que a interoperabilidade é importante na Indústria 4.0?
Na Indústria 4.0, linhas de produção não funcionam isoladas. Sistemas precisam se comunicar em tempo real para automatizar processos, reduzir erros e aumentar a eficiência.
A interoperabilidade garante:
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Automação avançada: máquinas partilham informações sem intervenção humana.
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Integridade dos dados: informações consistentes e centralizadas.
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Menos retrabalho: decisões rápidas e precisas baseadas em dados confiáveis.
O problema real: máquinas que não falam a mesma língua
Sistemas antigos coexistem com tecnologias modernas em muitas indústrias. Exemplo: máquinas com Windows 95 ou 98 armazenam dados importantes. Migrar para sistemas novos exige custos altos.
Soluções modernas permitem comunicação entre sistemas antigos e novos:
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Protocolo SMB/Samba: possibilita que servidores Windows modernos acessem arquivos de PCs antigos.
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CANBus e Node-RED: sensores de tratores enviam dados via CANBus; Node-RED converte em JSON e publica via MQTT.
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Digital Twins: dados do trator podem ser visualizados em dashboards em tempo real, simulando um modelo virtual do equipamento físico.
Como a Event Driven Architecture e protocolos IoT ajudam
Arquiteturas orientadas a eventos (EDA) e protocolos modernos tornam a integração de sistemas antigos e novos escalável e eficiente.
EDA: sistemas comunicam-se via eventos em vez de conexões fixas. Cada evento representa uma mudança de estado ou informação importante.
Vantagens na indústria:
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Desacoplamento: sistemas não precisam conhecer todos os detalhes uns dos outros.
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Escalabilidade: novos sistemas podem ser adicionados sem quebrar a arquitetura existente.
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Tempo real: eventos chegam assim que ocorrem, permitindo monitoramento e reação imediata.
Protocolos IoT modernos:
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MQTT: transmite dados de sensores em tempo real.
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AMQP/Kafka: suportam filas de mensagens e streaming de eventos em larga escala.
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OPC UA: padrão industrial moderno para interoperabilidade entre máquinas e sistemas complexos.
Para onde estamos a caminhar: Indústria 5.0 e Edge Computing
Na Indústria 5.0, humanos e máquinas cooperam em decisões inteligentes. A human-in-the-loop é essencial para decisões eficazes.
O processamento de dados na borda (Edge Computing) permite decisões instantâneas, sem depender da nuvem. O futuro aponta para:
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Mais conectividade
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Inteligência distribuída
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Colaboração entre sistemas e pessoas
A interoperabilidade deixa de ser apenas técnica e torna-se estratégica para a inovação industrial.
Conclusão
A interoperabilidade é o alicerce invisível da digitalização. Sem ela:
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Sistemas antigos e modernos não se comunicam
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Dados ficam isolados
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Inovação é limitada
Com padrões, protocolos e arquiteturas modernas, máquinas, sensores e aplicações trabalham de forma coordenada, permitindo automação, eficiência e decisões em tempo real.