Introdução
Em 2014, com apenas 12 anos, aprendi a programar vendo vídeos no YouTube. Durante anos, foi assim que cresci como autodidata. Só em 2022, já na universidade, comecei a ouvir os meus colegas falarem do ChatGPT e confesso que ainda levei algum tempo até o usar a sério.
Hoje, o ChatGPT gera código, cria apresentações e até estrutura projetos complexos com um simples clique. Mas a verdadeira questão é: estamos a usá-lo com inteligência? Ou será que, no fim de contas, somos nós os limitados e não a máquina?
Neste artigo, partilho a minha experiência com esta ferramenta e mostro como ela pode ser tão útil quanto a nossa capacidade de pensar, organizar e perguntar.
Usar o ChatGPT da melhor maneira possível
1. Ser específico nos pedidos
A chave para obter boas respostas do ChatGPT está no contexto. Uma coisa é pedir: "Cria o algoritmo quick sort". Outra é: "Cria o quick sort em linguagem C, eficiente em termos de complexidade temporal e memória". Quanto mais específico fores, melhor a resposta. Recomendo um vídeo do Augusto Galego sobre como criar bons prompts.
2. Usar memórias com cuidado
Pouca gente usa as "memórias" do ChatGPT corretamente. Esta funcionalidade permite que a IA mantenha informações entre conversas. Mas se não fores cuidadoso, ela pode misturar tudo. No meu caso, ao trabalhar em dois temas distintos de tese, o ChatGPT confundiu ambos, porque "ativou o neurónio" errado.
Sugestão: Desativa as memórias se fores trabalhar com temas muito diferentes ou então usa contas ou chats separados:
Conta de trabalho
Conta pessoal
Conta académica
3. Exemplo profissional: organização por stack
Na minha conta de trabalho, criei um chat só com informação da stack que uso:
"Olá, chamo-me André Rafael Sousa Teixeira e sou programador backend na empresa A. Aqui usamos Node.js, Express e MongoDB. Guarda esta informação e ajuda-me com dúvidas no desenvolvimento."
Assim, sempre que peço ajuda, o ChatGPT responde de forma coerente com as tecnologias da minha empresa. E se lhe der informação sobre os projetos, ainda melhor.
4. Exemplo académico: apoio à tese
Na vertente da tese de mestrado, segui abordagem semelhante. Indiquei que era aluno de Engenharia Informática e que o tema era X. Enviei a descrição do tema, e ele respondeu: "Onde queres que te ajude?"
Comecei pela revisão de literatura. Usei o Obsidian para tirar notas e pedi ao ChatGPT para analisar o conteúdo. Como ele não tem acesso ao Google Drive, comprimi a pasta e enviei em .zip. Ele analisou os ficheiros Markdown e deu-me feedback:
"Dos objetivos propostos, fizeste este, este e este. Este está a meio, este está completo, este precisa de reforço."
Sugeriu até criar diagramas com mermaid.js. Gerou o código, corrigi um erro de sintaxe, e o diagrama apareceu como pretendido.
5. Pesquisa inteligente
O ChatGPT também pode ser treinado para procurar artigos científicos. Podes dizer-lhe para usar termos do Google Scholar e dar prioridade aos mais citados. Facilita imenso na fase de revisão de literatura.
6. Projetos pessoais
Na vertente pessoal, podes dizer a tua stack preferida, explicar a ideia de um projeto e pedir para gerar requisitos funcionais e não funcionais. Depois, crias um chat só para código. Se fores organizado, o ChatGPT também será.
💡 Vibe coding: quando tudo flui com o ChatGPT
Houve momentos em que eu explicava tão bem o que queria ao ChatGPT que ele me dava o código certo, rápido — e funcionava logo à primeira. Parecia magia. É aqui que entra um conceito que muita gente chama de vibe coding.
O vibe coding é basicamente programar com base naquilo que estamos a sentir no momento. Não começa com requisitos todos certinhos ou fichas de projeto. Às vezes começa só com uma ideia solta, uma dúvida ou um "e se eu tentasse fazer isto?". E o ChatGPT entra como aquele colega que está sempre pronto a ajudar, sem julgar, e que te dá logo uma solução para experimentares.
Quando estamos nesse modo — com foco, com ideias claras e com a IA do nosso lado — tudo flui. É só explicar bem, ser direto, e o código aparece. Se não funcionar à primeira, ajusta-se, mas o ritmo não se perde.
É tipo estar a improvisar numa jam session de código. E honestamente? Há poucos sentimentos melhores do que ver uma ideia a ganhar forma em poucos minutos. O segredo é sabermos o que queremos e deixarmos a criatividade rolar. O ChatGPT ajuda a manter essa vibe.
A máquina vai substituir-nos?
Esta é a pergunta mais comum. Alguns dizem que sim, outros que não. A verdade é: depende da profissão.
Um arquiteto, por exemplo, não constrói uma casa de memória. Se alimentar o ChatGPT com boas práticas e modelos, a IA vai ajudar com sugestões e ideias. Mas não o substitui. Já os tradutores estão mais em risco: a IA já traduz com boa precisão e, com melhorias, pode reduzir significativamente o número de profissionais necessários.
Ou seja, profissões mais mecânicas ou repetitivas sofrerão mais. As que exigem pensamento crítico, criatividade e contexto humano continuarão a existir com novas ferramentas.
Conclusão
O bom uso da IA depende menos da "inteligência" da máquina e mais da nossa. Se soubermos organizar o pensamento, estruturar informação e comunicar de forma clara, conseguimos extrair o melhor do ChatGPT.
Nós ensinamos a IA, e ao fazê-lo, aprendemos mais sobre nós próprios. Afinal, o ChatGPT não é burro, mas pode parecer, se nós não soubermos usá-lo com inteligência.